Depois de tudo você vai ajoelhar em qual altar? Vai pedir
perdão pra quem? No fim não tem mais nada a dizer, é só pegar as coisas e ir
pra vida, pro mundo, pra aquilo que dá medo. Seja bem-vindo ao futuro incerto.
Não tem perdão que garanta vida próspera. Vai se ajoelhar pra que, então?
Todo mundo tem suas próprias cruzes pra carregar e não é
vergonha nenhuma dizer que está difícil, contar pro mundo que tá doendo. A vida
é boa porque não é fácil, se não seria banal, qualquer coisa. Você vai se
arrepender das coisas que pareciam boas e não eram, vai se amaldiçoar por
algumas escolhas que geraram desconforto, vai pedir para voltar, vai pedir para
ficar, vai pedir para nem ir e, no fim, é a vida mesma que está tomando forma.
O acaso mora ao lado, um pouco pra frente da porta da
sala, ali pelo corredor. O acaso também paga condomínio, também achou
a nova cor do portão da garagem ruim, também busca cartas quando chega do
trabalho e também pede pizza quando está chovendo. Saber que não sabemos nada
dá medo, mas é melhor assim do que viver na ilusão de que estamos no controle.
Não controlamos nada, nunca. A vida é só o palco.
Tem dia que uma coisa barulhenta nesse mundo é a alma
alheia. A nossa, infelizmente, só a gente não consegue ouvir! A dos outros
conta tudo pra gente, sem filtro, sem pudor nenhum. A alma alheia revela
solidão, desconfiança, alegria, amor, desejo, pavor e devoção. A nossa não nos diz
nada, nunca.
Mas tudo bem. Sempre “tudo bem” porque se não dá para
mudar, não adianta brigar na base de murro em ponta de faca. Tudo bem, a gente
sofre, se cansa, mas curte uns momentos legais. A gente ainda tem amigos
engraçados, ainda tem lugares incríveis para conhecer, ainda tem doces
inacreditáveis da padaria do centro. A gente ainda tem um dinheirinho pra
curtir umas coisas que a gente gosta, ainda tem aquela festa no fim de semana e,
acima de tudo, mesmo que não seja sempre, ainda consegue ser feliz.
A gente vai sobreviver. Eu prometo!