Vai acordar de
manhã cheio de assuntos inacabados na cabeça. Não vai ter para quem contar, nem
com quem discutir, vai pegar a bicicleta com o dia ainda nascendo e vai para a
rua. Vai pedalar para resolver os problemas, para achar as respostas das
perguntas difíceis, vai suar, vai sentir o vento na cara e, mesmo sendo
perigoso, vai pedalar alguns segundos com os olhos fechados, para sentir que o
corpo voa quando se quer voar. Vai voltar para casa com a sensação de que o dia
recomeçou, de que é uma segunda chance de dizer “olá” para as coisas do mundo.
Vai tomar
banho, o banho mais demorado do mundo naquele dia. “Graças a Deus é sexta”,
está tudo bem se demorar um montão, se deitar sem se mover nem um milímetro a
ponto de a água parada parecer sólida. Não importa se vai dormir e acordar
morrendo de frio. Vai tirar um tempo para si, porque toda pessoa precisa de um
tempo. Depois, só por capricho, vai se secar, por uma roupa qualquer,
protetores e fim.
Vai se
perguntar quais são os planos para o dia e não virão respostas. Depois vai
comer alguma coisa saudável, ligar o computador, receber convites, receber
propostas, fazer propostas e em duas horas o dia vai estar cheio de programas.
Vai bater a saudade, vai bater a saudade porque é isso que as saudades fazem:
elas batem. E batem pra arregaçar, pra estourar a nossa cara. Daí a gente
apanha ou entrega os pontos e chora depois da surra.
Vai andar no
sol, dia simples e tal. Vai encontrar uma amiga ou amigo, vai comer salada, vai
falar de viagens, de lugares, lembrar de histórias do passado, descobrir umas
fofocas da vida alheia e vai pedir um docinho para a sobremesa, porque ninguém
é de ferro e limão é azedo.
Depois vai
encontrar outra pessoa, fazer outra coisa, umas compras, um cinema, uma visita
a um outro amigo, uma reuniãozinha, um pedaço de tarde, uma história nova pra
descobrir e vai passar o dia nisso. Vai atender o telefone algumas vezes, tirar
algumas fotos, mandar muitas mensagens e responder muita gente. O bom de ter
celular e amigos é que o dia, mesmo que solitário, fica cheio de outras coisas.
Vai rir, gargalhar, se sentir leve, se espantar e viver bem. Vai estar lá,
acima de tudo. Porque a pior coisa de uma vida boa é não estar de corpo e alma nos
momentos simples que ela desenha para nós.
Depois, mais
tarde, mais à noite, vai receber um(a) ou dois(duas) amigos(as) em casa, pra
falar alto, falar o que for, falar o que vier. Que agora vai levar os dias do
jeito certo, um pé na frente do outro, aprendendo com os erros, aprendendo com
os exemplos e aprendendo a qualquer custo.
Depois vai dormir, vai se deitar na cama, ouvindo baixinho os carros lá
fora, como se fossem o som da respiração da madrugada. Vai pensar um monte de
coisas, um monte de assuntos, um monte de problemas, vai ter mil lembranças
embaralhadas, de sons, de músicas, de frases e de cenas. Vai oscilar entre
semi-sono e semi-lucidez e quando estiver quase dormindo vai receber uma
mensagem no celular. Vai ler “VAI VIVER!” e vai sorrir, pra dormir de vez,
acordar para pedalar no dia seguinte e seguir com as coisas de todo dia. Você vai
conseguir, eu sei que vai!