terça-feira, 27 de novembro de 2012

A calma daqui de dentro...


Calma. Eu tô vivendo, tô vivendo! Faltaria paciência para mim se eu fosse você, assim como falta paciência em você para entender alguém como eu. Quero hoje, sim, e muito, assim como quis sempre. É que às vezes o silêncio é mal interpretado e fica como se fosse uma recusa, um segredo ou uma fúria. Mas num é isso, é nada. O silêncio é o som da paz, a música da calma, e eu estou cantando pra você. Tá ouvindo?
É como a minha relação com o Sul. Todo mundo que me fala do Sul recebe a mesma resposta, que eu conheço pouco, que só fui uma vez, que não vi quase nada, que gosto mesmo sem conhecer por inteiro os interiores e todas as Cidades, que moraria lá. É um segredo meu que às vezes é bom contar, mas na maior parte do tempo eu prefiro esconder. Eu vi o Sul de uma maneira que só eu mesma poderia ver. Eu senti a brisa fria da noite, e risadas. Eu caminhei descalça pelas praias, molhei os pés no mar. É uma memória minha, de conversas minhas, de pessoas tão minhas que podem até terem sido da minha própria imaginação, mas são meus. Meu sentimento, minha emoção, meu apresso são como o Sul dos meus relatos: às vezes é melhor guardar, às vezes é melhor mostrar.
Aí vem o Cícero me dizer o seguinte: “Ai, se você soubesse o quanto machuca, não amaria mais ninguém!” Vou descordar? Eu conheci a dor, sei o quanto dói, mas também sei das glórias e da alegria que dá. Dá um trabalhão viver comigo, e mais trabalho ainda viver em mim. Mas eu suportei tantas coisas já. Sei das dores de amar sem ser amada, de não retribuir amores complexos e de perder amores que não se repetem, mas também sobrevivi. O Cícero sabe das coisas, mas não é nesse ritmo que a banda está tocando agora.
Gosto mais da parte leve de todas as coisas. Gosto mais do dançar deslocado, da piada sem graça, da bebida sem gás, das risadas sem motivo. É disso que eu falo quando falo sobre o lado bom da vida. É dessa vida que sentimos falta quando pensamos que sentimos falta de alguém. O importante para mim é estar presente, é ser referência de segurança, de conforto, de cumplicidade. O rótulo, o nome, o resto, o centro, isso não importa. Cansada de amar com o amor dos outros, resolvi criar o meu próprio e, mesmo que meio confusos, mesmo que inconstantes e mutantes, minhas paixões não poderiam ser mais intensas do que são. Se fosse no mar, eu estaria de cabeça, correndo riscos, pulando pertinho das pedras, curtindo o medo, respirando o vento que passa rápido para no final, mesmo sem ter certeza, me sentir confortável por cair em águas, não em rochas. Nunca sabemos se é água ou pedra, mas devemos pular mesmo assim, sempre, sem medir. Sem pressa, mas sem covardia.
O máximo que posso oferecer, acima de qualquer sentimento já batizado com nome, valor e vigência, é a minha calma interna, meu refúgio. Posso oferecer o que ninguém quer dar, que é a paz de espírito. Não existe grilo, nem grelo, nem gelo, nem elo que me faça desistir de viver em paz. A pacificidade dos dias não é solidão, nem mentira, nem ódio, nem rancor. Estar em paz é, simplesmente, estar dentro de si mesma, em conjunto com todas as outras coisas, mas sem perder sua própria essência, nem escondê-la do resto do mundo.
Li em uma revista feminina que o importante não é a exclusividade. O importante é sentir-se desejado(a), sentir-se amado(a), sentir-se importante. Enquanto sente-se isso o resto é perfumaria. Nos apegamos em preceitos sociais para justificar carência, justificar falta de atenção. Vem ver o pôr-do-sol comigo, vem ficar em silêncio do meu lado, só me olhar, só me ouvir perguntar “o que você está pensando” e ter a certeza de que a melhor resposta para me dar é “não estou pensando em nada”, só para deixar tudo em paz. Enquanto houver o que fazer, o que falar, aonde ir e o que viver, estaremos vivos, nessa ilha minúscula chamada mundo. Quem é que domina o tamanho das coisas, se não a própria vida? Não existe tamanho de amor, nem tamanho de cidade, nem tamanho de gentea. É tudo subjetivo.

A vida é a que entra em campo já vencedor. É nela que a gente tem que se segurar. É ela que nós devemos enriquecer, e não nossos bolsos. A vaidade de ter uma vida boa nada mais é do que querer ter um campeão dentro de casa, ter uma máquina que não quebra, um lutador que não cai, um carro que não para, um filho que não mente, uma renda que não finda, um amor que não morre. Eu estarei sempre errada até que provem o contrário, mas isso não me impede de contrariar o óbvio, viver do avesso, contar os números de trás para frente, ser otimista ou ser a antimatéria. Nós somos a antimatéria das nossas próprias vidas, fazendo fusões mortais e apagando tudo o que fomos, o que somos e o que seremos. Juntar-se a alguém é explodir, virar energia, se transformar e nascer de outra coisa, com outras cores e formas. Para isso é preciso muita coragem, calma e paz, mas são coisas que a gente tem de sobra.  Não é?

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