quarta-feira, 6 de março de 2013

Enquanto ele escrevia sobre mim...


Dentre todas as emoções íntimas que tive em minha vida, nenhuma sequer chegava ao sopé do que eu experienciava naquelas noites infinitas, noites tão minhas quanto dele, tão sinceras quanto a própria vida acontecendo diante dos olhos. Nada, nenhum amor, nenhuma perda, nem mesmo as traições diversas. Nenhuma emoção era mais significativa, marcante e intensa do que o sentimento de gratidão, alegria e realização que eu vivenciava naqueles instantes de total entrega.
Às vezes havia silêncio. Cortante, longo, seco e eu sabia que aquilo era a dúvida, a confusão e o medo tomando o lugar de outros sentimentos. Era sempre uma intensa troca de altos e baixos, um trepidar de pés e teclas, dedos e timbres, passos e criações.
Ele escrevia sobre mim, desnudando todos os meus segredos mais profundos, inclusive os que eu ainda nem havia contado. Desenhava meu corpo com palavras que eu não sabia falar, que não cabiam na minha boca e que eu só conhecia quando ele escrevia. Me fazia linda como uma oração, ou coisa maior.
Me fazia em situações não vividas, com amores não sentidos, em lugares desconhecidos, com roupas que eu não tinha e no fim eu chorava de emoção. 

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