quarta-feira, 3 de julho de 2013

Os objetos de alguém...


Não gosto de incentivar o consumo, nem a riqueza, nem a acumulação, mas não posso ignorar o fato de que objetos são importantes e necessários. Os objetos de uma pessoa dizem muito sobre ela, inclusive, que ela tem objetos demais, em alguns casos. Você consegue saber, mais ou menos, como é uma pessoa pelas músicas que ela ouve, ou pelos lugares que ela vai, mas fica muito mais fácil se você souber como ela se veste e o que ela carrega dentro da bolsa, da mochila, dos bolsos, enfim. Os objetos das pessoas dizem coisas sobre seus donos.

Mais do que significar estilos, preferências e opiniões, os objetos de alguém presenciam coisas muito íntimas que talvez ninguém mais saiba. As escolhas mais importantes, os planos mais intensos e as ideias mais brilhantes, acredito eu, surgem sempre em momentos de solidão. Num quarto, numa sala, numa mesa, dentro de um carro. São situações que acreditamos estar completamente solitários, mas que sempre estão sendo assistidas por dezenas, às vezes cetenas, de objetos. E se pudéssemos conversar com eles, obter informações, saberíamos mais sobre as pessoas do que elas mesmas.

Imagine quanta coisa não sabem os óculos da presidente Dilma. Quantas reuniões a portas fechadas eles já não assistiram? Quantos documentos confidenciais eles já não leram? Os objetos pessoais de alguém, muitas vezes, valem mais do que eles mesmos. Imagine quantas histórias os carros de Formula 1 não poderiam contar sobre seus pilotos, sobre as corridas, sobre as equipes, os mecânicos e até mesmo sobre as organizações e o grande circo da corrida? Imagina quanta coisa o capacete do Schumacher já não viu, ouviu e viveu? Pense em quantas noitadas inacreditáveis o isqueiro do Keith Richards já não curtiu. Pense em quantos quartos de hotel ele já não iluminou com sua chama, quantas ameaças e quantos palcos ele já não viu?

E não precisa ser só gente mega famosa assim não. Esse texto, na verdade, nasceu de uma reflexão minha sobre alguns amigos e pessoas que conheço. Gente que é tão voraz na vivência com certos artigos que seriam capazes de deixar a história das próprias vidas na boca de um único objeto. Comecei, de fato, me perguntando “quanta história os tênis de gente como a Paula Narvaez poderia contar”. Quantas chuvas a bicicleta de gente como a Isa Garaventa já não tomaram?  Quanta festa os sapatos de pessoas como Flávia Carvalho e Tassy Sasso já não curtiram? Penso em quanta mágica os pincéis da Dani Fialho não fizeram, quanto coração partido o violão do Fe Barscevicius já não musicou e quanto absurdo e desilusão meu teclado já não decifrou?


Os objetos de alguém são o novo “diga-me com quem tu andas e te direi quem és”. Vem conversar com o meu quadro aqui no meu quarto e você vai ver a quantidade de coisas que ninguém sabia sobre mim. Converse com a câmera de um fotógrafo, com o computador de um designer, com o instrumento de um músico, com os pincéis de uma maquiadora, com as luvas de um pugilista e dispense a conversa com qualquer uma dessas pessoas. Não será mais necessário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Qual seu caminho?