“Esse texto vai me dar dor de cabeça, até porque já fui apedrejada por coisa bem menos pesada. Mas acho que seria uma imensa injustiça comigo mesma não publicá-lo”, eu disse, pouco antes de levantar da cama. Saiba abstrair… Conto com isso!
Se alguém me pedisse um conselho hoje, qualquer pessoa, de qualquer idade e
qualquer tipo, eu diria a mesma coisa para todos: corra com tesouras! É o
melhor que eu posso desejar, mesmo que a pessoa esteja querendo ouvir “larga
dele”, ou então “não, não gaste dinheiro com isso agora”, tudo que eu poderia
dizer, para soar verdadeira e sincera seria isso. É claro que é uma metáfora,
uma força de expressão, mas até a interpretação literal já surtiria muito
efeito. Correr com tesouras é perigoso, não é aconselhável, dá medo em quem faz
e em quem vê e a mensagem do dia é essa. Tenha e proporcione o medo puro!
Quebre as regras, todas elas. Quebre regras sérias, regras morais, regras
cívicas e não só aquele tipo de regra que nos faz parecer idiotas em vídeos
motivacionais correndo pelados. Quebre regras justas, acordos que você mesmo(a)
firmou, rasgue contratos. Corra para não ser pega(o), passe a perna em alguém que você não conhece. Faça
algo muito errado, algo que cause problemas, que faça estrago, que faça alguém
sentir medo. Sinta medo de ser pega(o) por isso tudo!
Minta! Invente uma mentira forte, das que precisam de muita apuração, muitos
dias de pesquisa e muita força de vontade para ser desmascarada. Falte ao
trabalho dizendo que está doente e se atreva a não tentar forjar um atestado.
Convença a todos com emoções, jogos mentais. Seja ruim por um dia, seja alvo da
crítica do mundo inteiro, dos hipócritas que se sentem donos do que é correto,
das pessoas que dão lição de moral em massa na internet, das pessoas que acham
que são melhores que você. Sinta isso!
Confiança não tem preço, nenhum dinheiro compra e, por isso mesmo, jogue
tudo fora. Ignore
sentimentos, mágoas e arrependimentos. Faça o que jamais esperariam, faça tudo
dar errado, estrague os maiores valores do mundo e chore por isso. Chore
honestamente para saber como é, só para dividir a dor com quem você fez sofrer.
Corra perigo. Meta-se com alguém que corre mais do que você, que é mais forte
que você, que é mais ágil que você, que tem mais autoridade que você. Sinta o
medo puro, o medo da agressão física, o medo da dor, da tortura que é tátil.
Acelere no farol vermelho em um cruzamento movimentado ao meio-dia e tente não
fechar os olhos ou rezar. Aceite o ineditismo de fazer coisas perigosas sem
receber nada em troca. Absorva cada segundo desse medo, dessa ambiguidade,
desse eterno perde e ganha de forçar as próprias emoções ao limite.
Fortaleça sua mente e descubra como dominar, ludibriar e convencer
pessoas com quem você convive. Num mundo onde todo mundo pode ter uma arma, ser
psicologicamente evoluído ainda vale mais a pena. Controle a sua carência. Às
vezes precisamos de pessoas, e às vezes precisamos de nós mesmos. Arranje um
problema sério, dos grandes, cometa grandes erros e, mesmo no fundo do abismo
do desespero não conte para ninguém. Resolva suas questões sozinha(o), não
mostre fraqueza, medo ou dúvida. Seja perene, impenetrável, sólida(o) e
confiável. Não confie em ninguém. Não dê sua palavra sem
cruzar os dedos nas costas e não diga a ninguém que está cometendo um erro.
Corra com tesouras! Corra e depois arremesse-as a esmo, correndo o risco de
acertar alguém, de quebrar alguma coisa, de ferir a si mesma(o). Corra com
tesouras, com objetos perfurocortantes, com todo tipo de coisa que você, em sã
consciência, não ousaria fazer nenhum tipo de movimento brusco. Assuma uma
loucura falsa, uma loucura proposital e provocada. Aceite que você não tem
motivos, entenda todos os medos, sinta todos os hormônios tentando impedirem
você fazer coisas perigosas e curta cada segundo de aperto no peito por ter
magoado, ferido pessoas queridas. Sinta o mais puro poder da maldade, da
ruindade sem motivo, da banalidade da barbárie gratuita e depois, no fim,
agradeça por ter a chance de concertar tudo isso.
Mas todo mundo sabe: se conselho fosse bom a gente seguia, não saia falando
pra todo mundo por aí…
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