Logo eu, que passei tanto tempo reclamando da falta de criatividade e da
falta de novidade, me peguei afogada em pensamentos abstratos demais. No meio
desse monte de relíquias modernas descobri que às vezes a gente sabe
exatamente, mesmo que por um curto espaço de tempo, tudo o que precisamos para
sermos felizes.
O bom da vida está por aí, jogado nos pães com manteiga na chapa na padaria
da esquina, nos carros que trafegam lentamente num congestionamento fora de
hora no meio da semana. O bom da vida está em todo lugar: a gente só não vê
porque o estado de espírito não nos deixa. Mas tudo bem, mais cedo ou mais
tarde todo mundo se pega vivendo um momento de felicidade espontânea e cai na
real de que é muito mais simples do que pensamentos. Ser feliz custa pouco, às
vezes, quase nada!
O grande barato da vida está em resolver grandes problemas durante a madrugada
só porque estava ocupada demais durante o dia. A felicidade veio me pegar em
uns momentos inexplicáveis, tipo quando estava com meu novo fone de ouvido pelo
meio da rua em pleno horário de rush. São simplicidades que trazem tudo que é
complexo consigo.
O bom da vida está em poder ficar com as amigas no meio da semana em plena
praça sobre a vida sem se preocupar com o tempo, com o dinheiro, com o sentido
ou com o conteúdo, só focar no momento. Descobri que é possível dar mais
risadas em momentos sérios do que durante grandes shows de humor. É da maneira
ridiculamente séria com que nós tratamos os cretinos que nascem as situações
realmente hilárias. A gente valoriza cada coisa/gente sem valor…
A parte legal das coisas está escondida no momento da flexibilidade de
opiniões e ações. Naqueles microsegundos em que decidimos nos sujeitar a alguma
coisa que nos parecia negativa, ou a interagir com determinada realidade que
não nos é familiar é que estão as grandes descobertas da vida. A felicidade é
se sentir confortável saindo da zona de conforto. Ousar, permitir, intuir e
aceitar são coisas que vêm junto com descobrir, apreciar, admirar e absorver.
Ouvir uma música que você não gosta pode ser a chance de descobrir novos
gêneros. Conhecer pessoas das quais você nunca foi com a cara é uma ótima
chance de fazer novos amigos. Admitir pontos fracos e defeitos que você passou
a vida escondendo pode ser uma ótima maneira de aliviar tensões. Ser você,
acima de tudo, ainda supera qualquer tipo de subterfúgio e fingimento de
socorro. As pessoas gostam do que é real, o fake a gente já vê nos
livros e cinemas.
O barato da vida está em olhar pro lado e sorrir, olhar para trás e sorrir,
imaginar o futuro e sorrir e fechar os olhos sem precisar desmanchar o sorriso.
O barato da vida é barato mesmo, às vezes custa o preço de uma passagem de ônibus
ou o ingresso do cinema. Não é fortuna, não é figurino, nem de bolsa, nem de
caixa. A felicidade é o tipo de coisa que preenche o ambiente de nada, só de
sensações.
As partes mais legais da vida ainda são de graça, por mais que
estejamos cada vez mais mergulhados em objetivos que envolvem algum tipo
de lucro monetário. As melhores coisas estão dentro das fotografias, das
mensagens de texto, dos e-mails e das ligações telefônicas. Nada que é feliz
está preso numa loja, ou exposto em uma vitrine, ou sendo oferecido na
televisão. O importante é o que você vai fazer com aquilo! O que é feliz está
sendo dividido o tempo todo com quem você gosta, com outras pessoas felizes e é
isso o que importa, mas a gente só percebe isso quando consegue um pouco de
liberdade.
Essa sim é coisa rara e difícil de ter, mas a gente se vira, não é? A gente
se vira, pode apostar!
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