É a velha história do vivo e do morto: é mais tranqüilo estar na presença de um vivo falando merda do que na de um morto não falando nada. Freqüentemente nos esquecemos desse termômetro, mas ele se aplica a quase todas as situações da vida. Enquanto as pessoas estão falando, seja o que for elogios, críticas, agradecimentos, acusações, as coisas ainda têm a obrigação de serem flexíveis. Falar com alguém, ou para alguém, é pedir para conversar, é se mostrar, mesmo que inconscientemente, aberto a mudar de opinião, a chegar a um acordo. Quando não há conversa, quando tudo está em silêncio, a flexibilidade se torna dura como pedra.
O bom é que na maioria das vezes não são coisas definitivas. Geralmente o silêncio não significa o fim de alguma coisa, ou a decisão de algo. É simplesmente o sinal de que, naquele momento, alguém está sólido, inflexível. Às vezes o que a gente mais quer é alguém que tenha a capacidade – e a sensibilidade – de nos amolecer novamente. Num mundo onde o importante é manter os punhos sempre bem fechados, tem gente que ainda consegue perceber o valor e a necessidade das pessoas que nos amolecem.
Ser inflexível é o primeiro passo para fracassar em tudo que você fizer. Quer criar uma coisa nova? Aceite mudanças no projeto, desvios, idéias que surgem no meio do caminho. Quer tomar um rumo na vida? Aceite que nem sempre os planos acontecem como foram planejados, nem sempre as pessoas são legais, nem sempre os caminhos vão dar onde dizia o mapa. Quer ser uma pessoa melhor? Aceite seus defeitos, depois entenda e perdoe o dos outros, engula, mesmo que a seco, a verdade de que quem cria as expectativas é você e quem as frustra não tem culpa de não ter seguido os seus planos. Pessoas seguem os próprios passos e só os flexíveis conseguem viver num mundo imprevisível assim.
O ponto é que as pessoas precisam ouvir, umas às outras, com atenção. Mas, acima disso, precisam saber que mais importante do que o que se diz, é o silêncio que se faz, são as palavras apenas pensadas, as frases não ditas. Essas sim têm a ver com a nossa verdadeira opinião sobre tudo. A gente é o que é, em nossas formas mais cruas e verdadeiras, só quando a gente se cala.