segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Obstáculos...



Tem tanta gente lá fora. Tem gente até demais, na minha opinião. Caminho durante o dia por entre gentes que não têm nome, nem cor, nem sonhos. Não são nada além de obstáculos que atravancam meu caminho. Não faz diferença se são altas ou baixas, negras ou brancas. Quase nunca reparo em seus rostos, em suas expressões e, quase nenhum deles tem o poder de sequer desviar meu olhar. Em qualquer lugar tem gente aos montes. Caminhei por uma Avenida esses dias e fiquei espantada com o número de estrangeiros que estavam de bobeira pela rua conversando em idiomas que não me dizem nada. Como se não bastassem todos os roraimense, tenho de desviar e dividir as calçadas com gringos de tudo quanto é lugar. É muita gente, muita gente misturada com qualquer tipo de sentimento. Se estou com pressa todo mundo parece lento demais. Se estou feliz as pessoas têm cara de platéia, de admiradores da minha alegria. Quase nunca são pessoas comuns, só pessoas, porque mesmo sem prestar atenção em ninguém, vejo todos, um a um, passando por mim, cruzando meu caminho, indo e voltando sem rosto ou sobrenome. Pensando sobre essa minha mania de não ver ninguém nas ruas lotadas, que acredito não ser um hábito exclusivo, parei para pensar nas pessoas que passam a vida reclamando de nunca terem encontrado alguém, ou alguma coisa, que sempre esteve lá fora e nunca foram encontradas. Ninguém é capaz de encontrar ninguém nessa multidão de gente igual. Quando estou na rua meu pensamento está no trabalho que tenho que terminar, no dinheiro que estou tentando ganhar, na ligação que tenho que fazer. Não vejo ninguém porque não dá tempo. Tenho tantas coisas misturadas na cabeça que não sobra neurônio para reparar no tiozinho com a peruca torta, na gorda com uma roupa que jamais ficará bem naquele corpo. Não vejo nada disso porque mesmo que meus olhos estejam focando o chão e a rua, meu cérebro forma imagens insalubres de textos escritos, fotografias, imagens obrigatórias, calendários e ponteiros de relógio. A vida esbarra comigo todo dia. A vida está lá, eu sei que está, mas meu tempo não quer me deixar olhá-la, analizá-la, ter alguma opinião. Estou o tempo todo pensando no que ainda não fiz, no que ainda não entreguei, na namorada que não fui, na filha que não me tornei, na mulher que não encarnei. É tanta cobrança, é tanto trabalho, é tanta falta de controle da minha própria vida que inconscientemente prefiro arrancar os rostos e as pessoas e tratá-las como obstáculos na rua. Fica mais fácil assim. Minhas tarefas e afazeres me distanciam de uma Ingrid que já vai longe na escala de prioridades da vida. Existe tanta agenda, tanto compromisso, tanto número de telefone. Sem querer me limito a ficar sempre com os mesmos nomes e os mesmos problemas, porque afinal, é o que cabe. É mais fácil não desapontar ninguém quando não há ninguém para desapontar. Mas o jeito fácil, às vezes, é bem triste, mesmo para jovens como nós!

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